A forma de tratamento dos superiores para com os subordinados na Polícia Militar é responsável pela quase totalidade das licenças médicas psiquiátricas e pedidos de saída da tropa. A informação é do presidente da Associação dos Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (Aspramece), Pedro Queiroz. Ele considera isso uma forma de assédio moral, embora reconheça que a situação melhorou bastante e mostra por meio dos números de afastamentos, desde 2010.
Naquele ano, 5.178 policiais militares se afastaram do serviço e alegaram que não estavam suportando as humilhações sofridas, principalmente por conta de atrasos e cabelos considerados grandes. Em 2011, o número caiu para 3.575, entretanto os soldados se queixaram que a situação ficava cada vez pior. A consequência foi que a categoria cruzou os braços no final daquele ano.
A previsão da tropa se concretizou no ano seguinte, quando as licenças chegaram a 7.457 pedidos, em 2012. Muitos desses assédios, segundo as queixas apresentadas, foram por conta da participação dos militares na greve no final de 2011.
A possibilidade de haver mudança na gestão do Estado, em 2014, fez com que houvesse uma pequena diminuição nos pedidos de licença. “Caiu para 5.258”, lembrou Pedro Queiroz, acrescentando que, no ano passado, a queda foi mais acentuada, chegando a 1.760. “Até hoje (ontem), 1º de março, só registramos duas licenças em 2016. Já é reflexo da nova administração e nova orientação dada aos comandantes”, frisou o presidente da Aspramece.
Concurseiros
Para Pedro Queiroz, a mentalidade dos novos policiais militares também contribui para que o tratamento melhore, sem contar que o nível de escolaridade da tropa melhorou muito. “Quando os policiais percebem que os superiores não tratam bem os subordinados, eles não aceitam. Fazem novo concurso e vão para uma atividade melhor e menos estressante”, destaca.
Além do assédio moral, a atividade estressante e, acima de tudo, perigosa contribui para que os pedidos de licença e de demissão aumentem. Pedro Queiroz lembrou que cinco policiais militares foram assassinados somente nos 50 primeiros dias deste ano, sendo que dois deles com muitos sinais de crueldade. Em 2015, o segundo policial militar foi executado há exatamente um ano.
O presidente da Aspramece ressalta que a sensação de insegurança também está atingindo os familiares dos policiais militares. Pedro Queiroz informa que os parentes estão sendo intimidados para que não cobrem a elucidação do crime que vitimou seu ente querido.
Crime organizado
Ainda na gestão de Cid Gomes, os diretores da Aspramece protocolaram vários documentos solicitando providências, por parte do Governo, para combater os integrantes de facções criminosas de outras regiões que estavam invadindo as comunidades na Capital e Região Metropolitana. De acordo com o presidente da entidade, nada foi feito, e os efeitos mais severos estão aparecendo, desde o ano passado, deixando as famílias dos policiais militares enlutadas e a população com a sensação de insegurança.
Para Pedro Queiroz, uma das falhas ocorreu no programa Ronda do Quarteirão. “Tecnicamente, é um programa bonito, mas, na prática, não deu certo”, afirmou. Ele destaca que a carga horária exagerada terminou cansando a tropa, apesar de ser composta por muitos jovens, e, por isso, a desmotivação fez com que o objetivo não fosse alcançado.
O presidente da Aspramece teme que, em pouco tempo, cresça o desinteresse em ingressar na Polícia Militar e o consequente esvaziamento do contingente, não só pela forma de tratamento, mas por causa das aposentadorias por tempo de serviço.
Nota SSPDS
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) explica que desconhece a existência de dados que confirme a evasão na Polícia Militar.
“Em relação à segurança dos policiais, a Secretaria esclarece ainda que o policial tem por força de ofício uma tendência natural de intervir em qualquer ocorrência. Dessa forma, algumas vezes o policial está fora de serviço ou sem reforços e, mesmo assim, se sente levado a defender a sociedade e a si mesmo, em consequência, pode acabar sendo atingido letalmente. O agente de segurança, pela sua função e treinamento, deve fazer uma avaliação sobre a viabilidade de reação dependendo da situação, levando em consideração que a prioridade do policial é preservar a vida antes de preservar o patrimônio. A segurança institucional é tratada assim como a segurança dos familiares dos agentes e de qualquer cidadão quando há necessidade específica.”
FONTE: JORNAL O ESTADO
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