O titular do 34º DP (Centro), da Polícia Civil, Romério Almeida, foi afastado do cargo, ontem, por suspeita de ter favorecido um traficante de drogas. O delegado, um advogado e um detento foram alvos da \"Operação Renault 34\", deflagrada pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), por meio do Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc), com a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Estado (CGD).
A reportagem apurou que a investigação flagrou, através de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça estadual, um suposto esquema criminoso envolvendo o delegado, o advogado Hélio Nogueira Bernadino e o seu cliente Anderson Rodrigues da Costa. O advogado e o traficante foram flagrados, na conversa, negociando a liberação de um veículo Renault Logan, que estava apreendido no pátio do 34º DP. Anderson pagaria R$ 1.500 para o advogado e R$ 1.500 para o delegado.
A conversa pelo telefone se deu em 27 de janeiro de 2016. O veículo tinha sido apreendido no dia anterior. A Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) descobriu, também através de interceptações telefônicas realizadas com ordens judiciais, que Anderson da Costa, suspeito de integrar uma facção criminosa, ia realizar uma entrega de entorpecentes nas proximidades da Avenida Duque de Caxias, no Centro da Capital. Uma equipe da Polícia Militar foi acionada para a ocorrência, onde foi recebida com tiros e revidou. O traficante conseguiu fugir, mas deixou o Logan para trás e os policiais realizaram a apreensão do automóvel, junto com documentos pessoais, aparelhos celulares e certa quantia em dinheiro.
Anderson procurou o advogado Hélio Bernardino para conseguir a liberação do carro. O advogado disse que resolveria o problema com o pagamento de uma quantia em dinheiro. Logo no dia seguinte, 28 de janeiro de 2016, o veículo e os outros bens foram restituídos pelo 34º DP.
Inquérito
A investigação ainda detectou que o Boletim de Ocorrência (B.O.) registrado pelos PMs pela troca de tiros com um suspeito não resultou na abertura de Inquérito Policial.
Somente após o Núcleo de Investigação Criminal questionar o fato, o delegado Romério Almeida instaurou o procedimento, em 20 de outubro de 2017, mais de um ano e meio após a ocorrência. Diante dos indícios, o MPCE requereu ordens de busca e apreensão na residência e no gabinete do delegado, localizados nos bairros Aldeota e Centro, respectivamente; no domicílio do advogado, na Jacarecanga; e na cela onde se encontra o preso, na Unidade Prisional Desembargador Francisco Adalberto Barros de Oliveira Leal, conhecida como 'Carrapicho', no Município de Caucaia.
O órgão investigador ainda solicitou o afastamento de Romério do seu cargo público, por 60 dias, por suspeita de cometer o crime de corrupção passiva. Os outros dois homens são investigados por corrupção ativa. Os mandados foram autorizados pelo juiz da 8ª Vara Criminal de Fortaleza, Henrique Jorge Granja de Castro, no último dia 23 de março, e cumpridos, na manhã de ontem.
Responsável pela defesa do delegado, a assessoria jurídica da Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Ceará (Adepol), representada pelos advogados Leandro Vasques e Afonso Belarmino, afirmou que \"os fatos sob apuração já foram esclarecidos pelo Dr. Romério Almeida perante o Ministério Público\". \"Os diálogos entre o advogado e o seu cliente, captados por interceptação telefônica, não permitem de forma alguma a conclusão de que o delegado recebeu qualquer valor. Entendemos se tratar de um ruído de comunicação ou um contorcionismo interpretativo nesse sentido\", explicou.
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
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