Apreensões de armas de guerra batem recorde no Rio e chegam de vez ao interior do estado
Nos primeiros cinco meses deste ano a polícia apreendeu 239 fuzis, o maior número da série histórica para o período em dez anos; no interior, foram 28
Nos primeiros cinco meses deste ano a polícia do Rio apreendeu 239 fuzis, o maior da série histórica para o período em dez anos. O número representa um aumento de 31% em relação a igual período do ano passado e um salto de cerca de 250% em dez anos. Foto: Divulgação
RIO - A descoberta de 16 fuzis no Complexo da Maré durante uma operação policial nesta quinta-feira vai impactar as estatísticas de apreensões desse tipo de arma no estado, que já vinham em alta. Nos primeiros cinco meses deste ano a polícia do Rio apreendeu 239 fuzis , o maior número da série histórica para o período em dez anos. O indicador representa um aumento de 31% em relação ao mesmo período do ano passado e um salto de cerca de 251% na comparação com 10 anos atrás. Em 2010, nos primeiros cinco meses do ano, os policiais recolheram apenas 68 fuzis com os criminosos. O maior aumento nasapreensões aconteceu no interior: há dez anos, por exemplo, apenas quatro fuzis foram encontrados pela polícia na região. Em 2019, o número saltou para 28. Armasde guerra, os fuzis são os preferidos de traficantes emilicianos que usam o poder de fogo da arma para controlar territórios e impor terror.
Segundo a estatística do Instituto de Segurança Pública (ISP), entre janeiro e maio de 2019, foram recolhidos com os criminosos 150 fuzis na capital, 44 na Baixada Fluminense, 28 no interior e 17 na região da grande Niterói (que reúne os municípios de São Gonçalo e Maricá). Já no mesmo período do ano passado, as apreensões somaram 182 fuzis: 96 na capital, 39 no interior do estado, 37 na Baixada Fluminense e dez em Niterói. Em 2010, os policiais apreenderam 45 fuzis na capital, 14 na Baixada Fluminense, cinco em Niterói e apenas quatro no interior.
APREENSÃO DEFUZIS NO RIO
Cinco primeiros meses de 2019 possui mais apreensões que o mesmo período nos últimos nove anos
Instituto de Segurança Pública
Para especialistas consultados pelo GLOBO, o que chama a atenção é a evolução das apreensões de fuzis feitas pela polícia no interior do estado. Entre 2010 e 2016, os policiais recolheram com criminosos na região uma média de cinco fuzis nos cinco primeiros meses dos anos. Em 2017, entre janeiro e maio, as apreensões chegaram a nove fuzis no período. O salto acontece depois: em 2018 os policiais recolhem 39 fuzis.
— É bastante preocupante. Os fuzis sempre estiveram presentes na cidade do Rio e nos municípios da Baixada Fluminense. Especialmente usados nas comunidades carentes e nas favelas. O traficante faz uso da arma para se proteger seu território de grupos rivais. Agora, pelas estatísticas, o fuzil está se espalhando pelo estado e chegando ao interior. É um cenário diferente e bastante preocupante — afirmou o sociólogo Ignácio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise de Violência da Uerj.
— É difícil dizer o que está ocorrendo. Seriam necessitários algumas análises mais detalhadas — revelou o sociólogo.
Armas se espalharam pelo interior
O coronel reformado da PM de São Paulo, José Vicente da Silva Filho, consultor e professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da corporação, lembrou que o aumento das apreensões de fuzis no interior do estado pode estar relacionado às operações coordenadas pelo gabinete de Intervenção Federal.
— No ano passado, houve uma concentração muito grande de operações durante a Intervenção Federal. Eles atuaram sobretudo na capital e na Baixada Fluminense. O que pode ter provocado um efeito de acomodação no crime. O tráfico foi buscar no interior um refúgio, levando recursos e armas como os fuzis — disse José Vicente.
Segundo o coronel, o fato é que os números mostram que ainda tem chegado muita arma no Rio de Janeiro.
— Nós tivemos um aumento nas apreensões, mas o abastecimento de armas continua. E eu pergunto: e a Polícia Federal? Compete a Polícia Federal o combate ao tráfico de armas. Como sabemos, a PF está se empenhando no combate à corrupção. O que é importante também. Mas, no crime violento, no combate ao tráfico de armas, ela não tem se empenhado — afirmou José Vicente.
As apreensões de fuzis no interior este ano, segundo o ISP, aconteceram nas Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisps) 33 (Angra dos Reis), 32 (Macaé), 38 (Paraíba do Sul), 35 (Itaboraí), 11 (Nova Friburgo) e 10 (Barra do Piraí).
O delegado Marcus Vinícius de Almeida Braga, secretário estadual de Polícia Civil, disse que o aumento nas apreensões de fuzis é resultado de uma série de operações das polícias Civil e Militar para sufocar o crime.
— A Polícia Civil tem atuado tanto na repressão aos redutos do tráfico de drogas, como em regiões controladas por grupos milicianos. Isso, de certa forma, aparece nas estatísticas de apreensões de armas. Então, acredito, estamos no caminho certo — afirmou o secretário.
Marcus Braga lembrou que o trabalho de repressão vai continuar, mas é preciso investir também em outras metas.
— O trabalho está sendo feito, mas além de tirarmos o poder bélico dos criminosos, apreendendo armas e munição dessas quadrilhas, também precisamos atuar na outra ponta: atacando o lado financeiro dos criminosos. É importante cortar o fluxo de dinheiro para que esses grupos não consigam comprar mais armas e munição, repondo o estoque bélico — disse o secretário.
FONTE: O GLOBO