Um Dia de Fúria.
Conheça a triste história do policial Silvio Roberto Vieira e o seu ato de desespero em frente às câmeras, que alterou para sempre as condições de trabalho dos militares catarineses.
O militar, cansado das condições de trabalho e abalado psicologicamente, invadiu um programa de TV, portando 5 revólveres e ameaçou tirar a própria vida em frente às câmeras, em Florianópolis, em 1986.
A vida do policial brasileiro nunca foi fácil, principalmente durante os anos 80, período de recessão econômica e muitas mudanças políticas. As intensas horas trabalhadas, pressão nas ruas, hierarquização rígida, proibição do direito à greve, confrontos com armas de fogo e falta de acompanhamento psicológico, faziam e ainda fazem com que o policial viva um cotidiano estressante e extenuante, transformando-o em um grupo de risco para o desenvolvimento de transtornos psicológicos. O desenrolar de muitos desses problemas ocorre no trabalho, na vida pessoal e até mesmo nos meios de comunicação, como ocorreu no dia 12 de maio de 1986.
Era começo de noite de uma segunda-feira, quando o âncora Roberto Alves, da TV Cultura de Florianópolis, que apresentava o programa esportivo conhecido como Terceiro Tempo, foi surpreendido por um homem negro, vestindo farda da polícia militar e armado com cinco revólveres calibre 38.
O policial Silvio estava desesperado, disse que não aguentava mais as condições de trabalho e salário. Com o que ganhava não dava conta de dar o mínimo de dignidade para os seis filhos. A pressão era nítida em seus olhos, Silvio chegou a fazer roleta russa enquanto chorava e dizia: "Não aguento mais, eu não aguento mais". O programa continuou no ar, mesmo com toda essa terrível situação. Nos quase 30 minutos que durou a situação, o soldado chamou o então governador do estado, Espiridião Amin, de vagabundo. O político, querendo dar fim à situação, enviou oficiais da polícia e o chefe de Silvio para a porta do estúdio.
O apresentador e comentaristas do programa conseguiram, gradualmente, acalmar Silvio, que acabou, em um determinado momento, trocando os revólveres pelo microfone, através do qual pôde expor a situação, ele explicou que um grupo de policiais tinha se organizado para fazer protesto, mas só ele, movido por coragem e desespero, adentrou no programa.
O ato de desespero de Silvio terminou com a entrada de um Coronel da PM que, ao sentar ao seu lado, enfiou a arma em sua boca e ordenou que se rendesse. A imagem daquele homem negro, fardado, chorando de desespero e com uma arma na boca correu o mundo. A imprensa internacional divulgou o dia de fúria de Silvio, a opinião pública ficou do lado dele. Os apresentadores acompanharam o policial desesperado até o batalhão, e insistiram que se os superiores usassem violência, eles denunciariam ao vivo qualquer violação dos direitos de Silvio, pois consideravam-no um herói, que estava ali apenas para denunciar o péssimo tratamento fornecido pelo Estado aos agentes da lei, durante programa de TV.
Após o ocorrido, a polícia militar de Santa Catarina passou por reformas (longe das ideais) e melhorou significativamente as condições de trabalho e salários dos soldados e oficiais.
Silvio foi expulso da corporação, condenado a quatro anos de prisão, que cumpriu em regime aberto. Antes de ser liberado, porém, no dia 13 de maio, dia da abolição da escravidão, Silvio foi colocado na solitária só de cueca, em mais uma demonstração de autoritarismo de seus superiores.
Sem emprego, e entregue à bebida, ele passou a se oferecer para cortar grama em casas das áreas nobres de Florianópolis. Em 2018, uma reportagem da TV Record mostrou que Silvio estava cursando a faculdade de Direito, pois conseguira uma Bolsa, e vivia em uma pequena e simples kitnet. A família afirma que depois do episódio, o ex-soldado nunca mais se recuperou e teve envolvimento com drogas. Em reportagem para a UOL, sua filha afirmou que ele está debilitado, com sérios problemas mentais. A família aguarda recuperação.
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