Roberto Motta
Cresci aprendendo que polícia é uma coisa ruim. No meu círculo social ninguém era policial. Polícia era para ser temida; delegacias eram lugares tenebrosos. A palavra camburão inspirava imagens de regime militar e autoritarismo.
Na escola nunca me explicaram a função da polícia, sua organização ou que benefícios ela gerava. Em absolutamente todos os livros, filmes, gibis, programas de televisão, peças de teatro e músicas que eu ouvia, polícia significava opressão, violação de direitos, extorsão ou tortura.
Nos mitos e lendas urbanas da minha adolescência, nos anos 70, os heróis eram foras-da-lei, marginais ou “guerrilheiros”, santificados por uma suposta rebeldia contra o “sistema”. E o sistema era, principalmente, a polícia. Era bonito enganar “os homens”. Era bonito ser bandido.
Uma das obras mais famosas do artista plástico Hélio Oiticica mostrava o bandido Cara-de-Cavalo, famoso nos anos 60, estendido no chão. Título da obra: “Seja Marginal, Seja Herói”.
No final da minha adolescência Brizola chegou ao governo do Rio, e a mídia formou um bloco sólido dedicado a denunciar, sem tréguas, a violência e a corrupção da polícia. Os relatos de pessoas mortas por policiais, presas sem razão ou torturadas enchiam os jornais.
Nossos heróis eram os que enfrentavam, desmascaravam e derrotavam a polícia: os militantes de esquerda, os sociólogos, os donos de ONGs e a Anistia Internacional.
Nunca, jamais, em tempo algum, da minha infância até os meus 27 anos, vi alguém defendendo ou elogiando a polícia.
Nunca ouvi alguém explicando que a polícia era necessária e que, na maior parte dos casos, cada sociedade tem a polícia que deseja. Tive que mudar de país para ver isso.
Fui morar nos EUA e descobri que a polícia é um dos fundamentos de uma sociedade livre.
Nenhuma polícia – nem as dos Estados Unidos – é formada por santos. Basta lembrar da história de Serpico, ou entender como as delegacias de polícia em Nova Iorque na virada do século XIX para o XX eram centros de corrupção e uso político da força.
Corrupção e abuso existem em todas as instituições. A polícia reflete a sociedade que a criou.
Nos EUA o policial mora ao seu lado. No Brasil, em geral, ele mora em um subúrbio longínquo, ou em uma “comunidade carente” (eufemismo para favela), ao lado de criminosos.
Os policiais do Rio de Janeiro, até pouco tempo, escondiam a identidade funcional fora de serviço, temendo a morte certa se abordados por bandidos.
A transformação da polícia dos EUA em força em defesa da cidadania começou quando os salários melhoraram.
Voltei para o Brasil entendendo para que serve a polícia, e cheio de perguntas.
A polícia nos EUA é essencialmente municipal. Por que no Brasil é apenas estadual e federal?
A lei penal dos EUA também é estadual. Por que no Brasil é federal?
O trabalho policial no Brasil é dividido entre duas forças. Uma patrulha as ruas – a Polícia Militar – e a outra investiga os crimes – a Polícia Civil.
Por que? Nunca me explicaram isso, na escola, na faculdade ou em outro lugar qualquer.
Tive que estudar para entender como funciona – ou não funciona – nossa polícia, a justiça criminal e o sistema penitenciário. O que vi me deixou horrorizado. Não vou repetir aqui as estatísticas que todos já deveriam conhecer.
O que quero saber é: por que a sociedade brasileira tem ojeriza aos policiais, se eles são a última defesa contra a barbárie?
Vimos na TV as decapitações e os churrascos humanos das rebeliões dos presídios. Fazem isso presos; imagine o que farão soltos.
Quem vai enfrentá-los?
Como podemos ter, um dia, uma boa polícia se a opinião unânime da mídia, da academia e dos intelectuais é que polícia é uma coisa ruim e os criminosos são pobres vítimas da sociedade?
Por que tanta gente sensata e preparada se mobiliza com o “drama” dos criminosos presos, mas é insensível ao drama de uma sociedade onde todos já foram assaltados e vivem com medo?
Por que achamos que alguém ser assaltado, agredido, roubado de sua propriedade ou até morto, é justo e compreensível à luz da "justiça social"?
Como aceitamos, passivos, alguém dizer que "existe lógica no assalto"?
Que perversão moral e intelectual é essa?
No Brasil o debate sobre polícia é monopólio dos "especialistas" de sociologia de botequim, como a senhora de cabelo vermelho que criou a separação de criminosos nos presídios, de acordo com a facção – facilitando sua organização e transformando as cadeias em escritórios do crime.
A questão fundamental é: se a polícia é um dos fundamentos de uma sociedade civilizada, por que a desprezamos tanto?
Se tratamos a polícia como lixo, quem vai nos proteger?
Há muitos anos os Titãs, uma das melhores bandas de rock do país, compôs a música Polícia, cujo refrão era “polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia”.
Alguns anos depois a namorada do baterista dos Titãs foi sequestrada e levada para um cativeiro na favela do Vidigal.
Adivinhe quem a libertou do cativeiro?
Não foi o Batman.
Não foi o Che Guevara.
Não foi a especialista de cabelo vermelho.
Ela foi libertada por agentes da divisão antissequestro.
Ela foi libertada – imaginem vocês – pela polícia.
A única garantia da liberdade e da vida é a força das armas nas mãos das pessoas certas.
O resto é veneno ideológico de quem ganha a vida explorando a ignorância dos ingênuos.
Postagens Populares
Blog Arquivos
- novembro 2024 ( 5 )
- outubro 2024 ( 8 )
- setembro 2024 ( 13 )
- agosto 2024 ( 22 )
- julho 2024 ( 28 )
- junho 2024 ( 35 )
- maio 2024 ( 26 )
- abril 2024 ( 25 )
- março 2024 ( 23 )
- fevereiro 2024 ( 3 )
- janeiro 2024 ( 9 )
- outubro 2023 ( 2 )
- fevereiro 2023 ( 1 )
- dezembro 2022 ( 2 )
- agosto 2022 ( 2 )
- julho 2022 ( 1 )
- junho 2022 ( 1 )
- maio 2022 ( 2 )
- abril 2022 ( 7 )
- março 2022 ( 3 )
- fevereiro 2022 ( 3 )
- janeiro 2022 ( 9 )
- dezembro 2021 ( 3 )
- novembro 2021 ( 2 )
- outubro 2021 ( 5 )
- setembro 2021 ( 6 )
- agosto 2021 ( 6 )
- julho 2021 ( 2 )
- junho 2021 ( 4 )
- maio 2021 ( 5 )
- abril 2021 ( 5 )
- março 2021 ( 8 )
- fevereiro 2021 ( 14 )
- janeiro 2021 ( 17 )
- dezembro 2020 ( 26 )
- novembro 2020 ( 26 )
- outubro 2020 ( 26 )
- setembro 2020 ( 26 )
- agosto 2020 ( 32 )
- julho 2020 ( 32 )
- junho 2020 ( 20 )
- maio 2020 ( 20 )
- abril 2020 ( 14 )
- março 2020 ( 21 )
- fevereiro 2020 ( 28 )
- janeiro 2020 ( 15 )
- dezembro 2019 ( 21 )
- novembro 2019 ( 9 )
- outubro 2019 ( 6 )
- setembro 2019 ( 17 )
- agosto 2019 ( 16 )
- julho 2019 ( 25 )
- junho 2019 ( 20 )
- maio 2019 ( 8 )
- abril 2019 ( 17 )
- março 2019 ( 11 )
- fevereiro 2019 ( 17 )
- janeiro 2019 ( 17 )
- dezembro 2018 ( 14 )
- novembro 2018 ( 19 )
- outubro 2018 ( 14 )
- setembro 2018 ( 19 )
- agosto 2018 ( 33 )
- julho 2018 ( 35 )
- junho 2018 ( 18 )
- maio 2018 ( 10 )
- abril 2018 ( 14 )
- março 2018 ( 16 )
- fevereiro 2018 ( 31 )
- janeiro 2018 ( 37 )
- dezembro 2017 ( 23 )
- novembro 2017 ( 12 )
- outubro 2017 ( 16 )
- setembro 2017 ( 11 )
- agosto 2017 ( 24 )
- julho 2017 ( 22 )
- junho 2017 ( 24 )
- maio 2017 ( 39 )
- abril 2017 ( 46 )
- março 2017 ( 80 )
- fevereiro 2017 ( 107 )
- janeiro 2017 ( 52 )
- dezembro 2016 ( 27 )
- novembro 2016 ( 34 )
- outubro 2016 ( 16 )
- setembro 2016 ( 31 )
- agosto 2016 ( 39 )
- julho 2016 ( 94 )
- junho 2016 ( 38 )
- maio 2016 ( 32 )
- abril 2016 ( 2 )
- março 2016 ( 18 )
- fevereiro 2016 ( 9 )
- janeiro 2016 ( 7 )
- dezembro 2015 ( 18 )
- novembro 2015 ( 33 )
- outubro 2015 ( 32 )
- setembro 2015 ( 40 )
- agosto 2015 ( 46 )
- abril 2015 ( 1 )
- fevereiro 2015 ( 1 )
- dezembro 2014 ( 4 )
- outubro 2014 ( 2 )
- setembro 2014 ( 1 )
- agosto 2014 ( 26 )
- julho 2014 ( 35 )
- junho 2014 ( 132 )
- maio 2014 ( 159 )
- abril 2014 ( 131 )
- março 2014 ( 82 )
- fevereiro 2014 ( 108 )
- janeiro 2014 ( 168 )
Tecnologia do Blogger.
0 comentários :
Postar um comentário