Após mortes de PMs em Rondônia, oficiais se revoltam: ‘Estão nos calando’
Após mortes durante emboscada em fazenda, associação que representa os policiais militares afirma que houve omissão por parte do comando da corporação; governo nega e diz que ‘medidas urgentes estão sendo adotadas para solucionar as mortes’
PM realiza segunda operação contra criminosos abrigados em fazenda de Mutum-Paraná
Dois policiais militares foram mortos a tiros em uma fazenda localizada em Mutum-Paraná, distrito de Porto Velho, em Rondônia, no último final de semana. O Tenente Figueiredo Sobrinho, assassinado neste sábado, 3, e o Sargento Rodrigues, alvejado no domingo, 4, teriam sido alvos de uma emboscada arquitetada por criminosos armados que invadiram as terras das da região. Segundo as autoridades, até o momento, nenhum suspeito de praticar os crimes foi preso. “O Tenente Figueiredo Sobrinho estava acostumado a frequentar a fazenda e, no sábado, chegou com alguns familiares para pescar sem saber que acontecia ali um conflito agrário. Logo foram surpreendidos por pessoas que os cercaram, arrombaram o carro deles, conferiram seus documentos e descobriram que ele era policial militar. Então atiraram mais de vinte vezes no tenente, que morreu no local, em frente aos familiares, e ainda os espancaram e os mandaram de volta a pé para a casa”, relata Sargento Nuniz, presidente da Associação dos Praça da Polícia Militar do estado de Rondônia (ASPRA-PM/RO), em entrevista à Jovem Pan. Os policiais militares souberam do crime através da família, que parou na fazenda mais próxima para pedir ajuda.
A primeira equipe policial foi enviada ao local ainda no sábado, quando sofreu outra emboscada após encontrar o corpo da vítima. Houve uma forte troca de tiros que fez com que o grupo, já com policiais feridos, recuasse e deixasse para trás membros da corporação. Dois deles, o Sargento Vaz e o Cabo Pisa, componentes da Força Tática do 5° Batalhão, conseguiram escapar, sofreram leves ferimentos em decorrência dos tiros e passam bem. O Tenente Ferraz, ferido no abdômen após o projétil atravessar o colete à prova de balas, foi socorrido às pressas, passou por uma cirurgia e segue internado na UTI. Já o Sargento Rodrigues não conseguiu escapar, foi atingido por disparos e morreu no local.
No último domingo, a Polícia Militar de Rondônia deflagrou a segunda operação para resgatar os mortos no confronto. De acordo com a instituição, foram enviados para a região 60 policiais militares junto a uma tropa especializada, com apoio aéreo da Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec) e terrestre com o Corpo de Bombeiros e viaturas. Ao final do dia, os corpos do Tenente Figueiredo e do Sargento Rodrigues foram encontrados. O comando da PM do estado afirma que a operação teve o intuito de prender os autores do crime, no entanto, o sargento Nuniz, da ASPRA-
PM/RO, contesta. “A operação enviada não funcionou como ação alguma. O comando da corporação mandou os PMs recuarem, então eles apenas foram lá para retirar os corpos que estavam abandonados há mais de 24 horas e buscar equipamentos que ficaram para trás, como viaturas. O acampamento com bandidos armados continua montado, abrigando mais de 200 pessoas.” Em nota, o governo do estado nega as declarações dadas pela ASPRA-PM e diz que “medidas urgentes estão sendo tomadas por todos os órgãos que compõem a Segurança Pública para solucionar a morte dos policiais militares e que a Sesdec está atuando de forma a conter o crime com a força necessária de acordo com a lei, contando, com ações de inteligência”.
O sargento alega que esperava uma posição “mais enérgica” do governo do estado. “Precisamos resolver essa situação porque naquela terra existem pessoas armadas com fuzil, que usam crianças e inocentes para se protegerem invadindo terras, roubando gado e desmatando. Não nos permitiram continuar a operação e ocupar aquela fazenda. Percebemos um governo inerte, mais preocupado com bens materiais do que com a vida dos policiais militares e com o nome da nossa corporação. Percebemos também que o comando da PM abaixou a cabeça e, se a polícia se acovardar através de lideranças incompetentes, quem tomará a frente da corporação?”. Afirmando que há omissão do governo estadual, Nuniz diz que a tropa deve ser liberada para “fazer o seu trabalho” e desmantelar o acampamento. O comando da Polícia Militar de Rondônia afirma que lamenta os feridos e mortos na operação e declarou estar prestando assistência psicológica e social aos familiares dos policiais. O coronel Marcos Rocha, governador de Rondônia, diz também lamentar o ocorrido e desejou “os mais profundos sentimentos” às famílias das vítimas.
FONTE: JOVEM PAN