O dia de ontem pode ser considerado um símbolo nefasto da violência que se abate sobre Fortaleza e que não dá sinais de trégua prolongada, pelo contrário, oscila entre recuos e disparadas nos índices de criminalidade. Na mesma manhã, dois assassinatos brutais foram registrados na capital cearense. Dois graves casos atingiram espaços que deveriam ser considerados seguros para a população, um hospital e uma escola. No primeiro, um homem invadiu o refeitório do Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro, e matou a tiros um funcionário do hospital. Em seguida, em um ato ainda mais chocante, decepou-lhe a cabeça e fugiu do Hospital. Horas depois, o suspeito foi preso
pela Polícia no município de Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza. No segundo caso, no bairro Passaré, um adolescente de 16 anos foi perseguido, baleado e morto dentro de uma escola onde tentou se esconder. Esses fatos deveriam causar horror generalizado, e não apenas circunstancial, mas vive-se tempos em que a violência tornou-se um elemento do dia a dia. Por isso, é bem possível que esses crimes — especialmente o realizado com bestialidade inaudita — causem sobressaltos passageiros e comentários episódicos. Até que outros, da mesma dimensão ou pior, voltem a acontecer. As primeiras avaliações para o assassinato no IJF apontam para crime passional, e nenhuma polícia tem como prever ou prevenir ocorrência desse
tipo. No entanto, o crime será visto pela população dentro da crise de insegurança que vige em Fortaleza e no Ceará. Além do mais, o jovem assassinado no Passaré é mais um, entre tantos, a tombar, possivelmente devido à disputa interminável entre facções, que domina boa parte dos bairros periféricos. Há mais um agravante no caso, patrocinado pelo entrevero entre o prefeito José Sarto (PDT) e o governador Elmano de Freitas (PT). Como se estivesse em campanha eleitoral, Sarto divulgou uma nota afi rmando que, além da “incompetência (em combater as facções)”, havia “também cumplicidade” do governador com os criminosos. Elmano respondeu dizendo que o crime no IJF nada teria a ver com facções, sem lembrar o assassinato no Passaré. Ele
classifi cou a acusação de Sarto como “leviana” e disse que não entraria no “jogo de baixaria” do prefeito.
O fato é que a acusação que o prefeito faz ao governador o obriga a mostrar provas do que diz, não demonstradas até agora. Já Elmano não pode se queixar de críticas, quando pertinentes, relativas à falta de segurança. Este jornal já exortou, em editorial, que os interesses dos cearenses deveriam ficar acima de quaisquer disputas políticas de somenos importância. Nesse momento de extrema gravidade, renova, mais que o alerta, a necessidade imperiosa de que os dois gestores unam forças para fazerem frente ao desafio que casos semelhantes representam, sem gasto de energia com desavenças eleitorais fora de época.
Fonte: Editorial Jornal o povo 24.04.2024 página 16 Opinião
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