Região Metropolitana de Fortaleza: expansão do crime organizado


 Região Metropolitana de Fortaleza: expansão do crime

 tiagomoreira.profgeo@gmail.com

Professor, pesquisador do núcleo Fortaleza do Observatório das Metrópoles e Lapur-UFC

Apontado como responsável pela insegurança no Ceará, “a ascensão das facções criminosas” reescreveu, na última década, a dinâmica local do crime, por meio do controle de territórios periféricos da capital e dos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Em pouco tempo, as facções ampliaram seu poder no sistema prisional cearense, recrutaram jovens vulneráveis na periferia metropolitana e impuseram, pela violência, restrições de circulação e expulsões de moradores

e enclausuramento residencial, deixando marcas severas no cotidiano das cidades. Ressalto um movimento, aparentemente subdimensionado pelo Estado, no período

de ascensão das facções no Ceará - o extravasamento da violência da capital para a região metropolitana, onde os municípios da RMF passaram a vivenciar uma das faces, ainda pouco debatidas, e mais “perversas” da integração metropolitana - a expansão da criminalidade. Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, em 2023, Fortaleza apresentou pelo terceiro ano consecutivo redução no número de homicídios (-13,2%), enquanto a RMF oscila e não acompanha a tendência de queda da capital. Mesmo com uma população significativamente inferior (1.475.267 hab.), a RMF registrou números absolutos de homicídio superiores à Capital (2.428.678 hab.) nos anos de 2019, 2021 e 2023. A manutenção da taxa de homicídio da RMF (59,5) em 2023, superior à da Capital

(39,4), ressalta a tendência de reorganização da criminalidade na RMF, que passou a rivalizar o protagonismo nos índices de homicídios, aumentando sua influência e articulações no crime organizado. Esse cenário mostra que, para combater o crime organizado, é fundamental o esforço conjunto da segurança pública em escala local e nacional, considerando as conexões estabelecidas na escala metropolitana e fora do Estado, além da urgência em políticas públicas que fortaleçam os espaços metropolitanas melhorando a qualidade de vida e reduzindo desigualdades. Afi nal, se a expansão da  criminalidade se estabeleceu na região metropolitana, usando as interações da rede urbana, talvez o caminho para enfrentá-la esteja também na compreensão dos potenciais de integração dessa rede metropolitana. 

Fonte: Jornal o Povo edição de 24.04.2024 página 16

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