Pesquisadora alerta para a diversificação das atividades econômicas das facções criminosas

 Pesquisadora alerta para diversificação das atividades econômicas das facções


Lucas barbosa lucas.barbosa@opovo.com.br

Operações como a Munditia deflagrada na terça-feira, 16, em São Paulo, que apontou o envolvimento de três vereadores daquele estado com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) — chamam a atenção para a diversificação das atividades criminosas desenvolvidas pelas facções no Brasil. Esse foi um dos temas tocados pela pesquisadora Camila Nunes Dias, da Universidade Federal do ABC, na tarde dessa quarta-feira, 17, durante o VII Seminário Internacional Violência e Conflitos Sociais, realizado ao longo desta semana pelo Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC). Durante a mesa “O fenômeno

das facções criminais”, Nunes Dias discorreu sobre o fenômenos da “faccionalização” dos presídios e das atividades criminosas — isso é, os controles impostos por essas organizações de aspectos do cotidiano das unidades prisionais e de mercados ilícitos, como o tráfico de drogas. Pesquisadora há mais de

uma década do PCC, ela já publicou livros como “PCC: Hegemonia nas prisões e monopólio da violência” e “A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil” — este último, em parceria com o pesquisador Bruno Paes Manso.

do tempo, as facções passaram a influenciar em outros aspectos da vida cotidiana, sobretudo, nas periferias. O PCC, mais especificamente, afirmou a pesquisadora, com negócios como o tráfico internacional de drogas a partir do Porto de Santos (SP), passou a acumular tanto dinheiro que precisou “escoar” esses lucros para atividades legais, a fins de lavagem de dinheiro. O que começou com investimentos em postos de gasolina, revendas de carro e transporte alternativo passou a mirar construção de moradias populares e, até mesmo, licitações, como no caso revelado na última terça — conforme o Ministério Público de São Paulo, pessoas ligadas ao PCC fraudaram contratos de R$ 200 milhões em prefeituras e câmaras municipais. Conforme Nunes Dias, o

avanço das facções em mercados lícitos faz com que muitos criminosos já nem queiram mais voltar a atividades criminosas

mais associadas à

facção, como o tráfico de drogas. Ela chegou a especular a possibilidade de um futuro em que as prisões possam perder a “centralidade” para o PCC, afetando discursos de lealdade e solidariedade entre criminosos que arregimentam a base da facção. A pesquisadora ainda ressaltou que a integração do PCC com a economia formal pode fazer com que o Estado tenha “menos potência” para acusar alguém como criminoso, já que este faccionado

apresentará uma fachada de empreendedor comum.

Ao O POVO, Nunes Dias afirmou não acreditar que o PCC tenha um projeto político no sentido de substituir o Estado. Para ela, a facção busca acessar ilegalmente o orçamento público da mesma forma que outras pessoas já faziam. “A diferença é que a gente tem esse fenômeno novo, em que atores vinculados a essas facções criminais também têm tentado se beneficiar desse acesso ao Estado e têm conseguido, obtido algum acesso a esses recursos estatais”.

Para o professor da UFC Luiz

Fábio Paiva, coordenador executivo do LEV, debates como esses e outros realizados no seminário são fundamentais para entender um fenômeno tão “impactante” para a sociedade quanto a violência e, consequentemente, produzir conhecimento para embasar políticas públicas. “A gente tem aqui nesse seminário pesquisadores de todas as regiões do Brasil, pesquisadores da América Latina, pesquisadores da Inglaterra, da França, então, a gente tem essa possibilidade de olhar para o fenômeno da violência a partir desses diferentes territórios, desses diferentes lugares, a partir de diferentes perspectivas de pesquisa, quantitativas, mapeamentos, qualitativas…”, diz Paiva.

Leia mais na Coluna Érico Firmo, página 10.

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