Violência tornou mais difícil governar e ser contribuinte


Está cada vez mais difícil governar. E muito mais doloroso ser contribuinte. A agenda da segurança pública ocupa a cabeça das urgências de modo tão avassalador que todas as demais demandas são engolidas. A gente faz estrada e não pode rodar. Faz areninha e não pode jogar. A violência é uma catraca fechada para o contribuinte que investe muito dinheiro nos equipamentos públicos. No Cariri, um exemplo. A nova CE-153, entre o município de Porteiras e o distrito de Jamacaru, em Missão Velha, interliga a CE-293 à CE-397 e diminui o trajeto entre as cidades em 16 km. Por R$ 19 milhões, ajudou muito Porteiras, outrora “fim de linha”, por não possuir uma rota de acesso alternativa. Acontece que o distinto viajante é advertido a não fazer o trajeto à noite. Falam em risco de assalto. Não faziam dois dias a chacina de sete pessoas em Viçosa do Ceará, município historicamente pacato, dono de patrimônio tombado pela União e destino turístico, e uma criança e uma mulher foram assassinadas em uma Areninha, na Grande Messejana. Tentativa de chacina. O efeito disso é o temor de usar os equipamentos públicos que tão caro custaram. Os investimentos pesados em segurança ocorrem desde gestões passadas. Mudança de secretário houve. Mas há muito pouco tempo. Hoje faz 20 dias da posse de Roberto Sá. Na Capital e no Interior, prefeitos exibem guardas municipais em teatros de guerra. Fumaça e uniforme camuflados. Camuflagem. O Palácio do Planalto decidiu levar a pauta da segurança para Brasília, com atraso. Lula se manifestou anunciando a intenção de um plano com oito ministros também ex-governadores. Detalhe: em sua imensa maioria com histórico de fracasso. O seu antecessor deu de ombros. Em quatro anos, Bolsonaro nada fez de relevante. Foram apenas bravatas e apologia das armas, um elemento a mais de insegurança. Hoje, a oposição no Ceará faz o que cabe à oposição. Parla. É do jogo atacar o flanco mais aberto. Nos púlpitos e nas lives. Leiam-se candidatos a prefeitos, cuja capacidade de combater a violência em caso de vitória é diminuta a partir do Paço Municipal. Eles sabem.

Fonte: Jornal o Povo 23 de junho de 2024 página 23

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