O Brasil continua chocado com o episódio de linchamento de uma mãe de família, após ser confundida com uma suposta praticante de rituais de magia negra que sequestraria e sacrificaria crianças. O retrato falado da bruxa imaginária havia sido divulgado pela página do Facebook “Guarujá Alerta”, muito acessada pelos moradores do bairro de Morrinhos, em Guarujá, São Paulo.
A vítima, Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, era portadora de distúrbio bipolar que a fazia perder a noção da realidade. O local da tragédia é um bairro pobre, estressado por medos imaginários, como se já não bastassem os reais. Ora, se ninguém tem o direito de fazer isso nem sequer com o mais empedernido criminoso, imagine-se com uma pessoa inocente. Foi uma barbaridade.
Não estamos falando da Idade Média, nem de um povoado perdido nas brenhas das matas, mas de um bairro de uma cidade do Estado mais rico do País, com acesso aos sofisticados instrumentos de comunicação social, produzidos pela revolução tecnológica – como é o caso da Internet. Mesmo assim, vive imerso em um ambiente que pouco se diferencia do medieval, em termos de condições sociais, de déficit educacional e atraso cultural.
O quadro descrito é a confissão mais desbragada da falta de compromisso e sensibilidade social dos que sempre conduziram este País de costas para suas maiorias sociais, ainda entregues à própria sorte. Retirar esses segmentos da situação em que vivem exigiria iniciativas às quais o status quo sempre resiste.
Tentar fazer justiça com as próprias mãos tornou-se um fenômeno corriqueiro no Brasil de hoje, e isso não pode ser tolerado. O mesmo se diga do fenômeno da instilação do ódio como resposta a frustrações de toda ordem, através das redes sociais. Estas realizam um papel positivo de interligação entre pessoas, comunidades, movimentos sociais e culturais, mas tem também uma faceta obscura quando se presta a servir de canalização do ressentimento, do ódio e do preconceito.
Tudo isso é agravado quando certos formadores da opinião pública se esquecem da responsabilidade social de seu papel e terminam por favorecer reações multitudinárias de violência, no afã de denunciar a omissão do Estado. É preciso repensar os caminhos de nossa sociedade, dando maior ênfase ao ordenamento social.
FONTE: JORNAL O POVO
0 comentários :
Postar um comentário