Ceará: Ligações perigosas. Desembargador caiu por acaso


Ligações perigosas. Desembargador caiu por acaso
Em um plantão de domingo do Tribunal de Justiça do Ceará, mais precisamente o de 9/7/2013, seis traficantes de drogas foram soltos por força de liminares assinadas pelo desembargador Carlos Feitosa. Apesar do desmantelo causado pela medida judicial, se intensificava a partir dali uma investigação da Polícia Federal (PF) que mergulharia pela primeira vez nas relações questionáveis entre o tráfico de entorpecentes e alguns membros da Justiça cearense. A apuração originou a Operação Expresso 150 que rebentou na Operação Cardume. 


Em julho de 2013, estavam na rua, mesmo respondendo a vários crimes, prisões em flagrantes e condenações, os traficantes de drogas Renan Rodrigues Pereira, Tiago Costa de Araújo, Dejair de Sousa Silva, Carlos Hélder Flanklin Marques, Paulo Diego da Silva Araújo e José Roberlano Barreira Nobre.


Na verdade, apenas Renan Rodrigues não conseguiu sair pela porta da frente do sistema penitenciário do Ceará. Quando se preparava para fazê-lo, a 2ª Vara do Juri numa decisão de urgência, conseguiu segurá-lo por causa de um pedido de prisão preventiva assinado pelo delegado José Munguba Neto. Não fosse isso, os advogados de Renan teriam mostrado serviço. De uma vez só, conseguiram durante o plantão judiciário, num domingo (9/7/2013), a revogação de dois mandados de prisões que havia contra o cliente na 3ª Vara do Juri.


Renan Rodrigues, de acordo com apontamentos da Coordenadoria de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública (SSPDS) e informações da Polícia Federal, havia sido preso em abril de 2013 por comandar uma rede de tráfico de cocaína e crack no Lagamar, Tancredo Neves e outros bairros de Fortaleza. Além de supostamente ordenar assassinatos de desafetos e devedores. As investigações das polícias apontariam também que Renan era dono de carros importados e apartamentos na Beira-Mar.


Os outros

Os outros criminosos tiveram mais sorte. Tiago Costa de Araújo, Dejair de Sousa Silva e Carlos Hélder Flanklin Marques foram soltos e sumiram. Não era para menos, o trio havia sido flagrado pela PF (24/4/2013) com 101,7 quilos de pasta base de cocaína, pistolas e uma máquina de contar dinheiro. Integrante do mesmo grupo, o receptador José Roberlano Nobre também foi solto. 


O quinto traficante, beneficiado por uma liminar no plantão do dia 9/7/2013, foi Paulo Diego da Silva Araújo. Ano passado, o Ministério Público Estadual estava às turras com o Tribunal de Justiça. Aquelas liminares poderiam ter destruído a investigação da PF. Uma apuração que havia detectado, por acaso, conversas entre traficantes acertando a paga de R$ 150 mil para pelo menos um desembargador.


Paulo Diego havia sido preso em flagrante, por federais, quando tentava depositar R$ 339.785,00 em uma agência do Bradesco. Segundo relatório da PF e denúncia do MP, o dinheiro teria origem suspeita e seria “lavado” entre Fortaleza e São Paulo.


De acordo com um processo da 9ª Vara Criminal de Fortaleza, Paulo Diego tinha uma condenação por tráfico e já havia sido preso duas vezes antes da suposta tentativa de lavagem de dinheiro. Ele “possui antecedentes por crimes de estelionato (2004), roubo a banco(2010) e tráfico de drogas (2012)”, descreve um relatório do MP.


Na base de dados da Secretaria da Justiça do Ceará consta que Paulo Diego, por último, era presidiário da CPPL I, em Itaitinga. Até ser libertado, em julho do ano passado, havia passado duas vezes pelo sistema prisional. Primeiro entre 19/3/2011 a 8/11/2011, em Reriutaba. E a segunda vez, a partir de “18 de setembro de 2012 por decisão da 2ª Vara da Execução Penal da comarca de Fortaleza, quando foi sentenciando a 13 anos de reclusão” por tráfico de drogas.

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