A quem cabe a segurança pública?



Queremos luz 

Jéssika Sisnando

jessikasisnando@opovo.com.br

 Jornalista do o povo, com 10 anos de experiência na cobertura de Segurança Pública

Duas pessoas foram mortas nesta terça-feira, 23, em ambiente de instituições públicas, mais precisamente no âmbito municipal. Uma dessas pessoas foi um adolescente de 16 anos de idade, baleado na entrada de uma escola no bairro Jangurussu, em Fortaleza. Ainda de manhã, um funcionário terceirizado do Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza, foi morto a tiros e teve a cabeça arrancada por um ex-funcionário da unidade de saúde. Após as respectivas tragédias, não houve qualquer manifestação de amparo em relação às famílias das vítimas e aos funcionários de ambas as instituições. O prefeito José Sarto (PDT) culpabilizou o Estado por suposta inércia na Segurança Pública. O governador Elmano de Freitas (PT) transferiu a responsabilidade para a Prefeitura de Fortaleza, em razão da falha na biometria, que ocasionou a entrada de uma pessoa que não fazia mais parte do quadro de funcionários. Nada se falou sobre as pessoas enlutadas que testemunharam os crimes bárbaros, que perderam seus entes queridos.

A realidade é que o Governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza têm responsabilidade. A partir do momento em que uma pessoa obtém

uma arma de fogo de forma irregular, existe uma ineficácia do Estado em controlar esse comércio irregular de armamento. E mesmo com tantas medidas de restrição para o porte, o que vemos são as irregularidades. Quando uma pessoa sai às ruas

de Fortaleza portando uma arma de fogo, também existe ausência do poder público estadual. Se um criminoso invade uma unidade de saúde e mata uma pessoa, utilizando uma biometria que deveria ter sido cancelada há dois anos, há responsabilidade do Município e da administração do IJF, cuja responsabilidade é da gestão municipal. E, pasmem, o secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Samuel Elênio, compareceu ao hospital, onde afirmou, em coletiva de imprensa que o caso é “crime passional”, e não se trata de questão de segurança pública. Se porte ilegal de arma de fogo, homicídio, compra e venda de armamento, crime relacionado a “ciúme” não são fatos ligados à segurança pública, o que seria segurança pública? O mínimo que se espera de gestores é a preocupação com as pessoas que foram vítimas (diretas e indiretas) dessa situação. Não se espera essa troca de acusações, mas um diálogo acertado que chegue a uma resposta. E que essa resposta faça com que as pessoas — grande parte delas em situação de vulnerabilidade — possam usufruir dos serviços públicos com tranquilidade. 

Fonte: Jornal o Povo 24.04.2024 página 17

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