Redes sociais ampliam repercussão da insegurança em Fortaleza
O boom de relatos na
internet é um efeito da violência no cotidiano dos fortalezenses. Mas a
Polícia alerta que isso não é uma fonte de patrulhamento certo e seguro
A mobilização online
tem sido cada vez mais comum entre os usuários de redes sociais em
Fortaleza. Assaltos, manifestações, reclamações geram inúmeros
compartilhamentos em questão de segundos. Para o co-criador e
administrador da página Fortaleza Sem Medo, Bosco Couto, registros que
alcançam grande repercussão como o do assalto no cruzamento da Avenida Padre Antônio Tomas com Via Expressa
na última terça-feira (14) são exemplos de que as pessoas estão
cansadas da violência urbana. “Elas tentam de todas as formas, mesmo que
mais exageradas, dar pressa para que as autoridades resolvam o
problema”.
Por essa razão, Bosco
acredita que qualquer acontecimento relacionado à falta de segurança
tende a chamar maior atenção. Segundo ele, ocorrem mais homicídios em
Fortaleza do que no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas as pessoas não
têm essa percepção. Além disso, o boom de relatos sobre o assunto nas
redes sociais é um efeito da violência que acontece ao redor dos
fortalezenses. “Não existe o medo desproporcional, a causa é a
insegurança. Em São Paulo são 12 homicídios por 100 mil habitantes, no Rio 25 a cada 100 mil e em Fortaleza, 70 por 100 mil.
A rede social potencializa porque ela expõe o problema e não é uma
questão de tornar um espetáculo, se você não mostrar essas coisas passa a
sensação de que está tudo bem”, argumenta.
Para
uma das fundadoras da ONG SOS Ceará, Lara Pinheiro, por mais que o
compartilhamento diário de notícias acerca da violência amplie o medo
nas pessoas, passar a informação adiante ainda é uma atitude simples,
mas que serve para prevenir de possíveis crimes. “O cruzamento da Padre
Antônio Tomas eu já não passava por lá faz muito tempo porque eu já
sabia do perigo local. Você divulga para as outras pessoas se precaverem
e também é uma possibilidade para que elas não fiquem alienadas”.
O
“toque de alerta” divulgado nas redes sociais é visto pelo Major
Andrade Mendonça como um complemento do trabalho da Polícia Militar, mas
que não é uma fonte de policiamento certo e seguro.
“Nós trabalhamos baseados em estatísticas, em dados. Temos uma central
de ocorrências que registra as ações e passa para o efetivo”. Sem o
intuito de avisar à polícia, o médico Nilfácio Prado costuma
compartilhar informações em seu perfil do Facebook como uma forma de
tentar proteger seus amigos, propagando onde está o perigo nas ruas da
cidade. “O importante é avisar o máximo possível sobre o que está
acontecendo ao ponto de conseguir salvaguardar outras pessoas a se
precaverem”.
Porém,
com a rapidez da comunicação no mundo do www, o usuário também precisa
ter cuidado com o que passa para seus amigos. Segundo o Major Andrade, o
grande problema na divulgação online dos casos está no exagero e na
falta de informação. “Vejo com bons olhos quando as pessoas usam as
mídias sociais para informar e fazer com que outras tomem cuidado, mas
tem outras que geram uma sensação de pânico. Acontece um assalto e as
pessoas divulgam como se tivesse acontecido um arrastão”.
Com a sensação de liberdade que a Internet proporciona, tanto a página Fortaleza sem Medo como a ONG SOS Ceará alertam para a necessidade de verificar se a informação é verdadeira antes de repassar.
Para os dois movimentos, o importante é não deixar que a violência se
torne algo comum não causando mais estranheza ou incômodo. “As pessoas
começam a aumentar a história. Antes isso acontecia naturalmente, mas
nas redes sociais muitas não tem bom senso nem censura de verificar a
notícia para depois espalhar. O problema tem que ser mostrado, assim
como lixo na calçada ou o piscinão no HGF. Essa é a forma de
pressionar”, expõe Bosco.
De acordo
com Lara, que também foi uma das fundadoras do movimento Fortaleza
Apavorada, de alguma forma o que está no mundo online pode chamar a
atenção do poder público, tanto que a repercussão de fotos e vídeos tem
ajudado o trabalho de identificação da polícia, porém reclamar através do Facebook não é suficiente.
“Não adianta ser só um mural de publicações, mostrando as ocorrências
do dia a dia. Isso se esgota e acaba ficando sem propósito”. Com o SOS
Ceará, ela afirma que o objetivo é colocar projetos que ajudem vítimas
de violência em prática e mobilizar os cidadãos para questões de
segurança pública. “A partir do momento que a opinião pública é tocada,
por mais ignorados que nós sejamos, faz com que as autoridades acabem se
preocupando mais''.
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