Sobre incêndios, homicídios e caos na Segurança

Sete ônibus incendiados na Grande Fortaleza em menos de 48 horas. Até o fechamento desta coluna, pelo menos. As ações, ao que tudo indica, se tratam de uma forma de represália por conta do assassinato de um traficante na Unidade Penal Agente Luciano Andrade Lima (Upalal) - antiga CPPL I -, em Itaitinga (Além deles, houve mais um ataque, na sexta-feira, por motivos que não têm relação com a questão do tráfico). A ordem para os ataques, pasmem, teria saído de dentro de um presídio. Falha do setor de inteligência do nosso sistema de Segurança Pública, que não conseguiu evitar ou interceptar a possível ligação telefônica que desencadeou essa nova onda de violência. Falha também do aparelho repressivo que permite ao bandidos agirem na maior tranquilidade do mundo, seja à noite, seja à luz do dia.

A situação assusta, é claro. Contudo, não se poderia esperar resultado muito diferente da área que contabiliza estatísticas de verdadeira guerra civil. Em 2013, por exemplo, foram registrados 4.462 assassinatos no Ceará, o que dá uma média de dois homicídios a cada duas horas. Crescimento de 19,5% em relação ao ano anterior. Agora em janeiro, já tivemos 409 pessoas mortas de forma violenta. Ou seja, se a Polícia não consegue se antecipar a esse tipo de crime, imagine em relação à queima de um veículo.

A carbonização em série dos meios de transporte, entretanto, parece que conseguiu chamar a atenção do governador Cid Gomes (Pros) para o caos do setor. Atentem para a recente declaração do chefe do Palácio da Abolição: “É fundamental que a gente não permita que movimentos de violência sejam rotina na nossa Capital”. Como assim?! Esses movimentos estão sendo permitidos há muito tempo. Se não é um ônibus que é incendiado todo dia, são mortes e assaltos a aterrorizar a população. Ninguém duvida dos esforços do governo estadual para tentar superar o quadro. Mas eles foram insuficientes até o momento. Gasta-se muito, mas gasta-se mal. Optou-se pela aparência em detrimento da eficácia. Belas delegacias e carros luxuosos não servem de muita coisa. Falta planejamento, inovação, diálogo e valorização dos profissionais envolvidos.

“Não vamos aceitar abusos”, emendou Cid ainda em relação aos ônibus que foram alvo de depredação. Pois outros abusos são cometidos há anos. Territórios onde o Estado se eximiu de suas responsabilidades e que hoje estão dominados pelo tráfico, como mostrou matéria do O POVO publicada no último dia 10, assinada pelo jornalista Bruno de Castro. Tratam-se de 16 áreas regidas pelas leis das gangues. Atravesse a rua e corra o risco de levar um tiro. Quer afronta maior à ordem pública e aos critérios mínimos de civilização do que essa? O Estado tem todos esse locais mapeados, possui estrutura para atuar de forma incisiva, mas se omite por qual razão? E não falo só do aparato policial, mas também da instalação de equipamentos públicos que invertam essa lógica cruel.

LUZ NO FIM DO TÚNEL
A expectativa é que esse cenário seja um tanto modificado nos próximos meses. A Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Segurança Cidadão (Sesec), promete tirar do papel o “Plano de Segurança Cidadã”, que prevê ocupação policial e oferta de serviços sociais nas áreas mais críticas da cidade. Do lado do Governo do Estado, foi enviada na última segunda-feira à Assembleia Legislativa, sob regime de urgência, projeto que garante a criação de um sistema de premiações para os agentes da Segurança Pública mediante o cumprimento de determinadas metas. Serão destacados R$ 120 milhões do Orçamento para as gratificações dos policiais militares e civis.

A ideia integra o novo modelo de gestão proposto pelo secretário Servilho Paiva, que inclui ainda a criação das chamadas Áreas Integradas de Segurança (AISs). Serão 18 ao todo no Estado. O projeto tem alguns elementos do programa Pacto pela Vida, desenvolvido pelo Governo de Pernambuco e que conseguiu reduzir as taxas de homicídio em 39,1% entre os anos de 2007 e 2013. No ano passado, Recife, que já foi considerada uma das Capital mais violentas do País, obteve 140 dias sem nenhum homicídio. O sucesso é tamanho que se transformou em vitrine da gestão de Eduardo Campos (PSB), candidato a presidente da República e ex-aliado do governador Cid Gomes.

Muito positivo, aliás, que desavenças políticas não tenham impedido Cid de copiar experiência considerada tão exitosa. Uma pena que tão tarde e, não esqueçamos, em pleno ano eleitoral.




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