
O soldado X., do 5º BPM (Praça da Harmonia), já sente saudade do
tempo em que era chamado nas ruas, ao lado de um colega de farda, de
Cosme e Damião. Há uma semana, desde que o tenente-coronel Luiz Henrique
Marinho baixou norma determinando o uso de um colete laranja
fluorescente pelos policiais nas rondas a pé, ele tem ouvido expressões
menos cordiais, como “cenourinha” e “cone ambulante”. Foi o suficiente
para semear a discórdia entre comandante e comandados. Além de estarem
sendo ridicularizados, eles se queixam do calor e de virarem alvo de
bandidos, que os veem de longe.
Por fim, os PMs têm perdido folgas
por prisão efetuada. É que, com os coletes fluorescentes, os soldados
relatam que não conseguem prender os criminosos, que fogem ao
avistá-los. Com isso, ficou mais difícil conseguir a folga como prêmio.
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A novidade do colete começou na segunda-feira, dia 31 de março. O
comandante determinou o uso nas rondas a pé, inclusive de dia. Temos de
ficar com ele fechado, o que também tapa a identificação na farda. Não
aguentamos mais. Tenho vergonha de sair assim — relatou um PM que não
quis ser identificado.
Outro PM reclama que o colete chamativo os deixa vulneráveis:
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Se o objetivo era tornar a Polícia Militar mais visível, conseguiram. O
policial está visível até demais,e à distância, com risco de virar
alvo.
Um terceiro PM, na corporação desde setembro, contou que
antes de usar o colete fez três prisões em flagrante em dois dias,
garantindo três folgas numa mesma semana.
- Desde que passei a
usar o colete, não prendi mais ninguém nem tenho folga, a não ser a do
fim de semana - afirmou o soldado que trabalha em escala de seis dias de
trabalho por um de folga.
Os cerca de 50 soldados do 5º BPM que
fazem ronda em dupla na área da Avenida Presidente Vargas, da Praça da
República e da Central do Brasil têm horário de trabalho diferenciado.
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É o único batalhão em que os policiais que fazem ronda a pé trabalham
durante sete horas, de segunda-feira a sábado - reclamou X.
Se em
Londres os policiais usam camisas fluorescentes há muito tempo, no Rio, a
cor berrante chegou com polêmica. Especialistas ouvidos pelo EXTRA
acreditam que policiamento ostensivo é para ser visto.
- O policiamento ostensivo é para chamar atenção. O policial precisa
ser visto. E não dá para dizer que a segurança dele fica comprometida,
porque quem faz a segurança é ele mesmo, ficando atento a tudo - diz
Paulo Storani, ex-capitão do Bope.
O general José Siqueira, que já foi secretário de Segurança do Rio, concorda:
-
A PM tem que ser vista e, por isso, já usa farda. Os investigadores,
que precisam passar despercebidos, não usam. O policiamento ostensivo é
preventivo.
Segundo policiais do 5º BPM, o uso do colete tem sido
imposto aos novatos, que ingressaram na corporação a partir do final do
ano passado. Além de esconder a identificação do policial, no bolso da
farda, os soldados reclamam que o colete cobre também a arma.
Explicação da PM
De
acordo com a Polícia Militar, não há nenhuma irregularidade na
exigência do uso do colete nem na vinculação das folgas ao atingimento
de metas que levam em consideração prisões efetuadas. A nota da PM diz
que “segundo o comando do 5º BPM, o policial militar é premiado com
folga quando atende a um flagrante delito”. Ainda segundo a nota,
“trata-se de uma concessão que o comando dá a fim de incentivar o
policial”. “Quanto ao colete, o objetivo de sua utilização é a
visibilidade e ostensividade do patrulhamento. Pois registramos uma
circulação de cerca de 800 mil pessoas no Centro da cidade. O colete
identifica e localiza a presença policial”, encerra o texto.
FONTE: JORNAL EXTRA
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