
Mas eis que, com o passar das décadas, a velha
PM de guerra foi “acostumada” (sem força de lei mesmo) a exercer outras tarefas
que não as duas missões dadas acima.
Repetindo: “polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública”.
Por exemplo: na manhã desse domingo (16/março),
a senhora Cláudia Silva Ferreira, 38 anos, saiu de sua casa para comprar pão
numa das centenas de favelas do Rio de Janeiro. No percurso, ela foi alvejada
numa troca de tiros entre a PM e traficantes.
Até aí, a Polícia Militar estava cumprindo sua
missão claramente expressa pela Constituição Federal – “polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública” –, pois tentava combater os criminosos daquela
comunidade.
O problema é que Cláudia foi baleada e precisava
de “alguém” para socorrê-la até o hospital.
A pergunta é: “a quem compete socorrer pessoas
baleadas nas ruas do Brasil?” Na falta de socorristas, lá estavam três
policiais militares mudando de função abruptamente, deixando colegas de farda
em pleno tiroteio, para pegar Cláudia, embarcá-la na viatura e levá-la até o
hospital mais próximo.
No caminho, a tragédia: por razões que só a
perícia pode explicar, a mulher caiu da mala da viatura, mas ficou pendurada
pela roupa e acabou sendo arrastada por um trecho de 250 metros.
Chegou morta ao hospital.
Um motorista que vinha logo atrás da viatura
filmou a mulher pendurada no carro da polícia, o caso logo subiu na lista das
notícias mais lidas das últimas horas e os policiais – que deixaram seu serviço
para fazer o de outros segmentos – foram presos e já condenados por muitos
leitores/telespectadores Brasil afora.
“Onipresente”
Muita gente se pergunta “por que a PM erra
tanto?” Seguem algumas respostas:
Faltam agentes penitenciários para custodiar
presos em hospitais? Chama a PM.
Faltam agentes do Ibama para capturar uma cobra
no quintal de casa? Chama a PM.
Não tem Conselho Tutelar na cidade para
“conversar” com um menor? Chama a PM.
Não tem equipes de socorristas de plantão na
cidade? Chama a Polícia Militar…
E se o preso fugir do hospital? Culpa da PM.
E se a cobra picar a dona de casa? Omissão da
PM.
E se o menor for mal tratado pelos policiais?
Processo judicial neles!
E se uma mulher baleada cair de um carro não
apropriado para socorro?…
Eternamente
Quem é que não sabe qual é o resultado de um
confronto entre policiais e traficantes num país como o Brasil, especialmente
nas comunidades de risco?
Seria uma grande façanha presumir que quase
sempre haverá feridos nesses combates?
Se as incursões policiais nesses ambientes são
necessárias (se não fossem, a PM não receberia a ORDEM de ir para lá) e sempre
PREVISÍVEIS, por que equipes de socorristas devidamente capacitados para este
fim não são direcionadas ao local?
Onde está escrito que a Polícia Militar deve, ao
mesmo tempo, realizar a “polícia ostensiva, preservação da ordem pública E
socorrer feridos”?
Nada contra a PM dar uma ajuda a quem precisa,
quando flagrantemente necessário.
Mas antes de jugarmos os erros “dos outros”, é
bom lembrar que muitas vezes eram “os outros” que deveriam estar ali ‘errando’.
RONALDO COELHO
Via ACSMCE
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